quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Duas opiniões a reter

A primeira, a crónica de Daniel Oliveira, no semanário "Expresso", publicada no sábado passado, com o título "A vida dos outros", que subscrevo na sua quase totalidade e de que deixo aqui os seus últimos parágrafos - «Quem vive confortável na injustiça nunca poderá compreender a sua insuportabilidade. Quem pensa que o privilégio é um direito nunca poderá deixar de pensar que a pobreza é um castigo.»
A segunda, do seu aparente antagónico Henrique Raposo, com cuja atitude, confesso, raramente me identifico, mas que, tendo-me desta vez surpreendido pela positiva, merece também aqui ser mencionada. O seu título: "A outra PT". (...), onde faz uma apreciação sobre a «pornográfica assimetria dos salários» praticados por empresas como a PT ou a EDP: (...) «para os Bavas e os Mexias receberem como se estivessem a jogar no Real Madrid, um exército de gente anónima tem de levar 700 euros para casa.»...
Eu sei que é difícil criarmos uma sociedade justa mas podemos, pelo menos, pensá-la, imaginá-la, e projectá-la. Não deixar de apontar os erros do homem contra o homem. Manter acesa a esperança de que teremos um dia a sociedade ideal.
Continuem, caros Daniel Oliveira e Henrique Raposo. A vossa prosa expressa muito bem o que vai na alma da maioria dos nossos concidadãos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O dia da morte de José Saramago

Que dia, este.
Era suposto dedicá-lo à minha mãe, em exclusividade, porque fez hoje 76 anos que foi colocada na roda viva que é a vida, e, afinal, acabei por dividir grande percentagem do dia com este espectável, dada a fragilidade que vinha aparentando nos últimos tempos, e no entanto desolador de tão triste, acontecimento que foi a morte de José Saramago. Uma perda imensa. Um pensador, um original, um artesão da língua portuguesa como mais ninguém. Um homem que não se detinha perante nada para se fazer ouvir na denúncia de tudo o que achava errado nas práticas políticas deste planeta. Enfim, uma grande pessoa.
Descanse em paz, José. Vamos sentir muito a sua falta.

domingo, 7 de março de 2010

Ele Há coisas...

Hoje, se fosse vivo, o meu avô faria 100 anos.
Hoje senti, um pouco mais na pele, o que é ter de recuar, reconsiderar e retomar o lugar que a mim própria reservei no comboio da vida (que, afinal, se queria alada).
Hoje redescobri uma capacidade de renovação, de renúncia e de retoma de um percurso que me propus.
Hoje sinto-me acrobata sem rede, resoluta e digna na defesa do meu vôo.
Hoje foi um dia especial, e tão especial foi que até descobri que Luis Fernando Veríssimo. filho do Grande escritor brasileiro Erico Veríssimo, tem um lugar cibernético onde podemos ler algumas das suas "pérolas" de humor literário do melhor, ainda por cima, de sua escolha.
E o meu avô também tinha um sentido de humor impagável, ainda para mais, existencial, como, por exemplo, daquela vez que, já viúvo de minha queridíssima avó, lhe foram bater à porta duas testemunhas de Jv... e ele lhes diz «uma pode entrar, mas a outra não, que eu não preciso de testemunhas».

sexta-feira, 5 de março de 2010

Diálogos de pescador

Totó La Momposina, cantora que está para a Colômbia como Cesária Évora para todos nós numa canção que se explica por si só.
Va subiendo la corriente Con chinchorro y atarraya La canoa de bareque Para llegar a la playa. El pescador... habla con la luna El pescador... habla con la playa El pescador... no tiene fortuna Sólo su atarraya. Regresan los pescadores Con su carga pa' vender Al puerto de sus amores Donde tiene su querer.

A pastorinha de António Lobo Antunes

A primeira coisa que li com jeito, hoje de manhã, e que tive mesmo dificuldade em terminar a sua leitura, foi a crónica de António Lobo Antunes na revista Visão, ontem posta à venda (nº.887). A dificuldade citada não decorre de qualquer dificuldade de compreensão do texto ou até de concentração, é que a emoção desassossegou-me os sacos lacrimais e, com os olhos invadidos de lágrimas não é possível ver-se grande coisa. Foi, portanto, a custo de cheguei ao fim de uma das mais belas homenagens que se podem fazer a uma mãe. Aliás, sempre que "ataco" um escrito de Lobo Antunes, tenho de me preparar psicologicamente para o abano emocional. Normalmente riu e choro. Desta vez foi só lágrimas e um sorriso triste que acompanharam um sentimento de plenitude que há muito não sentia enquanto leitora. Salvé, António Lobo Antunes! Bem haja!
Quanto à revista Visão, a minha favorita na especialidade, só tenho a apontar um desaire que fez com que eu não a tivesse comprado na semana passada, mas vi que já se retratou nas suas cartas aos leitores. Aquela capa revoltou-me. Não há o direito de: 1º. Expôr a pessoas mais sensíveis a uma imagem chocante como é aquela; 2º. Faltar ao respeito da família do exposto e, 3º. faltar ao respeito ao próprio que não lhe bastava ter morrido e ainda ser objecto da curiosidade mórbida que alimenta algumas criaturas com as quais evito cruzar-me nesta vida (e já agora nas próximas, também).

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Eu quero este livro

Detesto falar de política. A responsabilidade que implica deter o Poder é fundamental e determinante na vida do cidadão. E o cidadão é um ser humano com direitos, deveres e anseios. E, abstraindo da vergonha que muitas vezes sinto face a alguns cidadãos que, na net, se manifestam das formas mais desrespeitosas e absurdas e que não corresponderão, espero eu, ao comum e pacato cidadão do qual eu sou um eco, digo que a política, da forma como vem sendo exercida, não responde em muito ao anseio comum. Cria mesmo bastante ansiedade na cidadã pacata em que me revejo em lente desfocada. E não estou aqui a defender nenhum partido,apenas alguma ideologia e muito respeito pelos Direitos Humanos. Na hora de votar, confesso que não tenho muita convicção. Sei o que não quero. Só isso. E na hora em que se assiste ao massacre, justificado ou não, de mais um governo, só me ocorre pensar que uns se deixam apanhar e outros não. E que os motivos estão e estarão sempre lá, será apenas tudo uma questão de cair em graça ou em desgraça e ter mais ou menos Poder de agir sobre os anti-corpos. Na hora de celebrarmos a nossa República, há textos que deveríamos ler em jeito de reflexão. O livro de Rui Mateus, "Contos Proibidos" (D.Quixote, 1996), ao que parece "desaparecido" há algum tempo de cena, e de que deixo aqui alguns excertos retirados das suas primeiras páginas, parece-me servir o propósito.
Eu entrei para a política quase por acaso. Aderi nos anos 60 à minúscula Acção Socialista Portuguesa por acreditar que, pela via do socialismo democrático e através de um sistema pluripartidário, Portugal viria a ser um país igual ou melhor que aquele onde vivia exilado - a Suécia - e que era então considerado, acertadamente, a sociedade mais justa e mais evoluída do planeta. Não o socialismo utópico, igualitário, de partido único que transforma os cidadãos em funcionários do estado. O socialismo onde os partidos se combatem no campo das ideias e onde os interesses e bem-estar dos cidadãos estão sempre em primeiro lugar. Onde os partidos políticos são a espinha dorsal do sistema e os instrumentos para a sua modificação democrática e não o instrumento de promoção pessoal dos seus dirigentes. Mas, infelizmente, e daí a outra razão de ser ser deste meu livro, Portugal parece estar a perder essa importante batalha da democracia. Isso atestam o crescente branqueamento da História e falta de transparência das instituições.
A propósito do 25 de Abril, da Revolução dos Cravos e da Liberdade adquirida e de como Portugal chegou a ser um exemplo a seguir aos olhos do Mundo:
(...)Mas os partidos políticos e seus principais dirigentes rapidamente desperdiçariam este enorme património, em lutas intestinas e com vaidades provincianas. Hoje, visto de fora para dentro, Portugal regressou ao seu estatuto de país insignificante e receptor. Não foram conseguidos os grandes objectivos da Revolução de Abril e o País encontra-se entre a Europa e a mediocridade. Parece que o povo português não consegue libertar-se do fatalismo da I República.
(...)Um pouco à semelhança dos «pilares morais»do regime, a Maçonaria e a Opus Dei, tudo se decide às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos seus governantes e dos seus magistrados fosse algo suspeito, algo subversivo.
Liberdade, Justiça e Transparência são sinónimos de Democracia. E sem esses ingredientes essenciais o regime português não passará de uma democracia com pés de barro.
(Excertos do livro Contos Proibidos de Rui Mateus)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Atenção! O que não se pronuncia não se escreve.

O novo acordo ortográfico assim o impõe. Com algumas exceções, em que é possível com e sem aquela consoante que ajudava a reforçar o sentido da ação ou da coisa. Credo, isto é mesmo estranho. Temos de começar já a trabalhar o lado preguiçoso dos nossos cérebros. Mas até 2012 temos desculpa. Vá lá...No fundo somos todos atores de uma nova arquitetura da nossa língua. Passar de pharmacia para farmácia só fez com que a palavra pharmacia se enchesse daquele valor que pertence aos achados históricos. E eu, que já cá tenho meio século, acho o máximo poder, de repente, pertencer aos próximos cem anos, pelo menos, na utilização desta componente da palavra- nação- portuguesa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Interlúdio poético musical

LE CRI DE LA CARPE : Ann Ballester, Dominique fonfrède concerto no Triton (Les Lilas), setembro 2004. Realizador : Gilles Marceaux. (liveweb.arte.tv/fr)

domingo, 21 de junho de 2009

Um domingo diferente

Esta "coisinha" maravilhosa passou o dia connosco. Tem poucos meses de experiência de vida e logo foi encalhar com a veterana Francisca, que, como se esperava, ficou "de quatro" com a Jule.

sábado, 16 de maio de 2009

Espero reencontrar-te por aí

Dois anos, das 9 às 17. menos meia hora, ou não, conforme fosse ou não necessário. Foram duas vezes 300 dias, em que nos ouvimos e aturámos, nos discutimos e confrontámos, nos conhecemos e gostámos. e, fosse como fosse, nos jurámos amizade para sempre. 2 anos. E 2 anos depois desses dois, em que nos vimos mais duas vezes, dois natais, e nos prometemos almoços, jantares, passeios e sociedades, e, nesta eterna suspensão, toca o meu telemóvel novo, acabadinho de comprar, numa inesperada e indesejada chamada - a notícia brutal do teu ignóbil desaparecimento. Mas eu não me conformo, e acho que isto não fica por aqui. Há-de haver uma vida depois desta onde nos vamos voltar a ver e todos os seres que amámos nesta vida vão estar também nessa outra que há-de ser eterna e de eterna felicidade, que é aquilo que eu gostava que tivesses sido nesta. Para ti, a minha amizade eterna! Bem hajas, onde agora estiveres, E.S.M.

domingo, 19 de abril de 2009

Agrippina de Handel

(Agrippina e Claudio - Foto Google)
Em homenagem a Handel (1685-1759), desaparecido há 250 anos, deixo aqui uma tradução livre da sinopse da ópera Agrippina*, actualmente em cena no T.N.S.Carlos, em Lisboa.
*A partir da tradução inglesa de George Hall, do original de Gloria Staffieri (Libreto de Vincenzo Grimani).
A acção passa-se em Roma, meados do Séc.I.
1º. Acto
Agrippina, mulher do imperador Claudio, explica ao seu filho Nero que é chegado o momento de ele ascender ao trono. Mostra-lhe uma carta na qual é revelado que Claudio morreu, vítima de uma tempestade no mar. Agrippina não perde tempo e, sendo pessoa de não olhar a meios para atingir os seus fins, manda chamar, sem que nenhum saiba do outro, os cortesãos Pallante e Narciso, que sabe estarem por ela apaixonados. A cada um deles confia as novas do desaparecimento de seu marido e pede-lhes que, em troca do seu amor, apoiem, no Capitólio, a nomeação de Nero como seu sucessor. Mais tarde, quando ao povo e no Capitólio, é anunciada a morte de Claudio, ouvem-se imediatamente as vozes de Pallas e Narcissus a apoiar Nero como novo César. Agrippina e Nero estão prestes a ascender ao trono, quando o servo de Claudio, Lesbo, surge de súbito a anunciar que o imperador desembarcou em Anzio, são e salvo, graças à ajuda do valoroso Ottone, e acrescenta que, como recompensa de o ter salvo, Claudio prometeu a Ottone o trono. Perante estas notícias, os quatro conspiradores ficam desnorteados. Porém, numa conversa privada, Ottone confia a Agrippina que prefere o amor de Poppea ao trono. Sabendo que Claudio também ama Poppea, Agrippina desenha um novo esquema que permitirá ao seu filho ascender ao poder. Vai a casa de Poppea e, assegurando-se de que ela ama Ottone, diz-lhe que ele a traiu cedendo-a a Claudio por forma a obter o trono e sugere-lhe que, como vingança, ela provoque ciúmes a Claudio, dizendo-lhe que Ottone, inchado com o seu novo papel, lhe ordena que recuse Claudio e se lhe entregue. Perante isto, Claudio punirá Ottone retirando-lhe o trono. Poppea cai na armadilha e, quando Claudio chega, segue à letra o plano de Agrippina, obtendo dele tudo o que deseja.
2º. Acto
Entretanto, numa rua de Roma, perto do palácio imperial, Pallante e Narciso, tendo descoberto os planos de Agrippina, decidem formar uma aliança. Ottone, nervoso com a sua coroação eminente, quando Claudio chega aclamado pela multidão, vai ter com ele para lhe lembrar do prometido. Mas este repele-o brutalmente, chamando-lhe traidor. Consternado, Ottone pede apoio, primeiro a Agrippina, depois a Poppea, mais tarde, a Nero, mas todos se distanciam dele, deixando-o mergulhado no mais profundo desespero. Mas Poppea começa a acreditar que a infelicidade de Ottone é genuína e a duvidar da sua culpa e desenvolve um estratagema para descobrir a verdade. Vendo-o aproximar-se, senta-se num recanto do seu jardim e finge estar a dormir, e fingindo falar a dormir revela-lhe o que Agrippina lhe disse, que ele a tinha cedido a Claudio em troca do trono. Quando Ottono, contrariando as mentiras da mãe de Nero, declara a sua inocência, Poppea vê finalmente os desígnios de Agrippina e jura vingar-se. Agrippina, entretanto, apercebendo-se da gravidade da situação, planeia mais crimes: Primeiro, manda chamar Pallante e promete-lhe o seu amor se matar Ottone e Narciso; de seguida, pede a Narciso que mate Pallas e Ottone. Se, neste momento, os cortesãos não se deixam por ela enganar, já com Claudio tem melhor sorte. Dizendo ao seu marido que Ottone planeia vingar-se dele pela perda do trono, pede-lhe que se apresse a declarar Nero o seu sucessor. Claudio, impaciente por partir para estar com Poppea, dá-lhe o seu consentimento.
3º.Acto
Poppea, que deseja reparar o mal feito a Ottone, concebe um plano: Dá instruções ao seu amante para se esconder e controlar o seu ciúme, ouça o que ouvir. Nero: (Que ela tinha previamente convidado) chega: Também ele ama Poppea e arde de desejo por ela, mas esta diz-lhe que sua mãe está prestes a chegar e convence-o a esconder-se. A seguir, chega Claudio, e Poppea queixa-se que o imperador não a ama realmente e, quando ele lhe relembra tudo o que fez por ela, mencionando o castigo de Ottone, Poppea sustenta que foi mal compreendida, não tinha Ottone a importuná-la, mas sim Nero. Poppea esconde então o imperador e chama Nero, que, acreditando que Claudio já se foi embora, sai do seu esconderijo e retoma o seu discurso amoroso. Claudio interrompe-o e manda-o embora com rudeza. O plano funcionou: Livrando-se de Claudio com uma desculpa, Poppea conduz Ottone para fora do seu esconderijo e os dois, reconciliados, juram-se amor eterno. Entretanto, o enredo adensa-se: Nero conta a sua mãe a recente desgraça e pede-lhe que o defenda da fúria de Claudio, enquanto Pallante e Narciso informam Claudio da conspiração urdida por Agrippina durante a sua ausência, de tal modo que, quando Agrippina apressa Claudio na coroação de Nero, Claudio acusa-a do crime de usurpação de poder. Ela admite ter lutado pela coroação de Nero, mas defende-se clamando tê-lo feito para prevenir o pior: Perante as notícias da morte de César, soldados, povo e Senado uniram-se de imediato para a sucessão e então, para assegurar que o trono permanecesse nas mãos de Claudio, aclamou Nero. Claudio fica convencido pelas palavras de Agrippina. Mas esta imediatamente aproveita para o acusar de traição, pressionando-o a manter distância de Poppea, dizendo-lhe que esta é amante de Ottone, o que ele refuta, dizendo-lhe que é Nero quem deseja Poppea. Quando Poppea, Nero e Ottone chegam, Claudio acusa Nero de se ter escondido nos aposentos de Poppea, o que este não pode negar. Entretanto, no meio de todo este tumulto, e para surpresa de todos, o imperador ordena que Nero se case com Poppea e Ottone seja o seu sucessor. Mas esta solução não satisfaz nenhuma das partes envolvidas, pelo que Claudio, desejando pôr um fim no conflito, cede o trono a Nero e oferece Poppea em casamento a Ottone. Por fim, chama Giunone (Juno) para abençoar todos e trazer glórias ao império.

domingo, 29 de março de 2009

Longas ausências...

...Prestações demasiado raras. Parece gralha mas não é. Estou aqui para explicar porque não tenho vindo cá mais vezes. Não é que faça grande falta. Mas isto é aquilo que se costuma chamar de "falar com os meus botões" ou "pensar em voz alta". No caso é, escrever em voz muito alta e irritada. Porque se não tenho cá vindo ao meu operador de internet o devo. Dificuldades de comunicação, falhas na linha, telefones sem funcionar. Estou de cabelos em pé de tanta irritação. Ainda ontem cá vieram dois técnicos que ainda deixaram isto pior. Ainda se o tempo estivesse bom para passear, mas o vento e o súbito arrefecimento da temperatura, para além de uma surdez parcial provocada pelas alergias da época, deixam-me um pouco desconsolada. Não estou a dizer que é tudo mau ou menos bom, não. Até que me sinto bastante feliz, apesar de tudo. A eterna e reconhecida como válida lei das compensações funciona sempre, para o mal e para o bem. Só não tenho é vindo aqui. E gosto de cá vir, pronto. É uma forma de me propagar pela rede, sei lá...

domingo, 15 de março de 2009

Divagações de fim-de-semana

Leio pensamentos de Jorge Luis Borges, enquanto ouço "Agrippina" de Handel e entrecorto com um conto de Sam Shepard. Tudo muito bonito, mas a dispersão mata a perspectiva e a profundidade do momento. Vou-me em diversas ordens de ideias, numa sede de tudo ter. E nada sobra. Apenas o momento que já passou. E a memória frágil de três ambientes mentais quase antagónicos. A chegada da Primavera encapotada em Verão mente-nos com um Sol de Inverno, e deve ser essa a explicação para tanta confusão que sinto na pele que, cada vez menos, suporta ambiguidades. A vida no campo tem destas coisas. Comichões e deslumbramentos. Odores e espanto. E a proximidade do mar é outro tanto de muita coisa de que aproveito o essencial, o transporte líquido em liberdade azul cintilante para mundos conhecidos e desconhecidos onde sempre queremos ir para depois voltar e recordar e voltar a ir e acrescentar mais à nossa ínfima existência. Fim do fim-de-semana mas não das divagações. Li há pouco, no "Público", que as nossas expressões faciais vão passar a poder comandar aparelhos género aipodes, tipo um piscar de olho muda para a faixa seguinte, um abrir de boca para a anterior e por aí fora. Isto não pode ser verdade. A sê-lo, temos mesmo a robotização do gesto humano a chegar ao seu pleno. Tudo se conjuga para nos condicionar a espontaneidade. Tirei a foto ao riacho antes que seque. O riacho faz parte do mundo rural da zona onde habito. A foto foi tirada ontem, quando regressava da exposição "Lá fora", que fui ver antes que se fosse embora. (Ups, acabo de cometer um erro que, segundo J.L.Borges, é altamente reprovável - palavras com o mesmo som numa mesma frase.) Gostaria também de falar sobre essa exposição, de que hoje foi o último dia. Talvez amanhã, que hoje já estou a dispersar-me para outras coisas.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Charles Darwin nasceu há 200 anos. Ai sim? E...

...E há 150 anos publicou um livro A origem das espécies por selecção natural , uma teoria da origem das espécies segundo a qual "todos os seres orgânicos que viveram sobre a Terra descendem de uma forma primordial", todos descendem de um mesmo organismo que foi evoluindo, modificando-se, adaptando-se, por selecção natural. Segundo a sua teoria, só os indivíduos mais bem adaptados de cada população sobrevivem para deixar descendência. Em 1871, publica A Descendência do Homem , onde acrescenta que a evolução das faculdades humanas como a inteligência e a moral se deu a partir dos antepassados símios, através da selecção natural. Em 1953, Francis Crick e James Watson confirmaram a teoria de Darwin, ao descobrirem que cada organismo transporta um código químico da sua própria criação no interior das suas células, um texto escrito numa linguagem comum a toda a vida: o simples código de quatro letras do DNA, o chamado Código Genético. Em 2003, ao concluir-se a sequenciação genoma humano, verifica-se a sua semelhança com o dos chimpanzés, revelando-se a descendência de um antepassado comum. E assim se confirma, polémicas religiosas à parte, que Darwin estava certo. E tão certo estava, que mais razões dá à espécie humana para ter respeito pela natureza em todas as suas formas. A tão badalada frase: "Respeitar o meio ambiente" faz ainda mais sentido numa perspectiva Darwinista. E, para terminar este apontamento, duas curiosidades: Há quem se tenha aproveitado politicamente das teorias de Darwin e seus continuadores para utilizações pérfidas, como, por exemplo, o nazismo; E parece que também da dita teoria se retira que, na sua evolução, o Homem tenha perdido a sua cauda, ficando apenas um orgão vestigial chamado cóccix, assim como há quem interprete no cordão umbilical, vestígios da nossa remota ascendência arborícola. Como já toda a gente sabe, inaugura hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, uma importante e imperdível exposição sobre Darwin. Estou muito curiosa.
Para este apontamento baseei-me na revista National Geographic Portugal, edição de Fevereiro, nº. 95 e num artigo publicado na revista Actual do Jornal Expresso de 07 deste mês. Foto in images.google.pt

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Batman com Tallulah

A propósito de Tallulah Bankhead, que despertou a minha atenção em leituras recentes, e depois de visualizar alguns vídeos sobre ela no YT, encontrei uma preciosidade, daquelas que só se encontram em sótãos das nossas avós (isto imaginando que tenho menos 20 anos de idade...que é, de facto, a minha idade mental). Não é que Tallulah faça o meu género como pessoa, era demasiado saltitante para meu gosto, mas que fez estória, lá isso fez. E o grande achado foi logo arrumado aqui, para quem quiser passar uns momentos hilariantes de ficção científica (repare-se nos gadgets do herói). E a voz de Tallulah em playback de Robin que o torna muito mais másculo do que quando fala com a sua própria. Há muito que não me ria tanto.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Músicas de filmes

Hoje apeteceu-me ouvir músicas de filmes, enquanto tratava dos assuntos domésticos, porque a senhora especialista na matéria não compareceu, por suposta gripe. Agora que tenho um aspirador silencioso, até que nem custa tanto. E os paninhos pré-embebidos também limpam o pózinho (pázinha ou pázinho) muito bem, sem grandes atchins. E assim, ao som do "The Last Emperor" (música de Ryuichi Sakamoto, David Byrne e Cong Su), despachei o assunto com inspiração oriental. Depois, apeteceu-me Ry Cooder em "The End of Violence", e é o que continuo a ouvir enquanto escrevo isto. Deste, diria que se trata de um conjunto de esboços musicais, uma colagem de sons provindos do passado e do futuro para se deterem perante o nosso ouvido, à laia de ponto de situação. Do outro, que foi ao encontro da necessidade de alimentar uma atmosfera mental criada pela vizualização de "Tokyo Ga", um filme de Wim Wenders que vi ontem na tv. Falo de um filme realizado por um ocidental sobre um realizador asiático, do princípio do séc. XX, Ozu, e sobre a cidade de Tóquio e a sua crescente ocidentalização. O "Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, embora sendo sobre a História da China, tem, na sua banda sonora, a mãozinha de Sakamoto, o que lhe dá um toque nipónico, principalmente no tema principal. Há muito que não ouvia quer um, quer outro e soube-me tão bem que tive logo de vir aqui desbocar este bem estar. E depois, aquela coincidência de ter Wim Wenders em ligação directa com tudo isto. O alemão que consegue expôr em écran os mais íntimos recantos do espírito de um povo, seja ele o seu próprio, o americano, o japonês ou o português. Fascina-me o seu sentido de universalidade em simultânea coordenação com as diversas matizes culturais e sociais. Ele consegue criar uma empatia, que extende a nós, espectadores dos seus filmes, com cada um dos locais onde escolhe filmar, e com aquilo que é único e específico em e de cada um. Colhe o essencial, o espírito do lugar habitado, através dos indivíduos, reais ou representados, que melhor o incorporam. Sublinho também a perfeição plástica da sua obra, banda sonora incluída, e voltando ao princípio deste post, re-desenho o mapa deste meu percurso mental para verificar se não me perdi algures...E acho que não: Estou entre dois universos sonoros, cujo ponto em comum é Wenders. Curioso, não é?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quando a música é Música e o cinema Cinema.

Para quem ande mais distraído, chamo a atenção para a revista de música clássica "diapason", que este mês vem com um extra muito especial: Bach por Heifetz. Um cd que me acompanha enquanto ando por estas andanças cibernéticas. Partitas para violino, BWV1004 e 1006 e os concertos para violino nºs. 1 e 2, BWV 1041 e 1042. Depois da queda aparatosa que acabo de dar e da qual desconheço ainda as sequelas, excepto alguma dificuldade motora de que me tentei alhear com "O homem que sabia demais", de Alfred Hitchcock , este belíssimo momento musical é qualquer coisa de especial. Do filme, de que retiraria algumas imagens fantásticas para uma boa colecção de fotografia, fica-me a revelação da proveniência do tema "Whatever Will Be"("Que sera, sera"), uma das mais conhecidas canções de Doris Day, e que, afinal, desempenha um papel da maior importância nesta película do grande senhor do suspense. Quanto à crise, on vera, vera...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

domingo, 4 de janeiro de 2009

O Estado de Sítio do Mundo em Geral II

É difícil pretender-se ser feliz quando já não nos podemos permitir ignorar o que se passa de grave noutros sítios do planeta em que vivemos. A força bélica de Israel arrasa o povo palestiniano e o Ocidente nada pode contra. O inferno instituído naquela zona é qualquer coisa de pasmar. É o pior da natureza humana no seu melhor. Como criar consenso entre dois povos que não se toleram? Como evitar o ódio de um povo contra quem lhe usurpa o território? Que situação absurda na desigualdade dos meios utilizados. Não haverá algures numa mente iluminada solução pacífica para este eterno conflito? Que tristeza. No meu íntimo, formulo um desejo profundo de que um qualquer milagre ilumine o obscuro estado de alma destes dois povos.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Alice Russell

No momento em que coloco aqui este vídeo estará a acontecer um concerto desta menina no "Music Box", em Lisboa. Vi o anúncio e fui tentar saber como e o que canta. Canta muito bem Soul/Funk. O vídeo podia ser melhor, mas até que não está despropositado. Fiquei com alguma pena de não ter ido ouvê-la.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Lisboa - a minha cidade

Hoje, a pretexto de cuidados com a minha saúde, fui até à cidade onde nasci. Arrumei o assunto saúde física e fui tratar da mental. Depois de uma breve visita a um centro de consumo para média/alta burguesia, só para dar uma olhadela nas edições musicais e revistas a condizer que não vi em lado nenhum, reconstrui-me em direcção à Gulbenkian, ou melhor, ao Centro de Arte Moderna (CAM), a fim de degustar algumas saladas com paisagem verde em pano de fundo. E fiquei maravilhada com o inusitado encontro com o eterno. As pessoas atrás do balcão, salvo uma ou outra, continuam as mesmas, são as mesmas. A montra continua tão bem guarnecida como há 30 anos atrás. Os jardins, inspiradores como sempre. Os mesmos ângulos de enquadramento, a mesma atmosfera de recolhimento artístico. Cada pessoa uma luz. O paraíso. Para finalizar, uma visita à feira do livro a decorrer no Museu Gulbenkian. Adquiri duas obras: uma teoria filosófica sobre religião, de David Hume e outra sobre gravura japonesa do séc.XX, porque continuo bastante interessada em cultura japonesa. Tratei da minha saúde mental, portanto.
Ainda dentro do tema desta minha intervenção bloguista, adorei passear um dia destes na Baixa, entrar em lojas que eu já nem sabia ser possível encontrar. Lojas que vendem sabonetes Musgo Real e Leite de Colónia (para a beleza realçar...), toucas para banho daquelas redondas e com folhos e mãozinhas para coçar as costas. Almocei um maravilhoso sável frito com açorda num restaurante cheio de patine na Rua dos Correeiros e comprei um chapéu que me fica a matar numa loja muito em voga para quem curte retro. Passeei no Martim Moniz e na Rua da Palma. E senti a cidade em toda a sua diversidade como já há muito não sentia. Ai esta alma alfacinha que só está bem onde sente o fado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Paul Newman no Estoril

Sempre vi Paul Newman como um actor, um bom actor com uma imagem bela. Um olhar azul lindo e bom, a imagem ideal da estrela de cinema. Não conhecia a sua faceta de realizador. Nunca tinha calhado não sei porquê. A minha estreia, no entanto, foi um tanto ou quanto estranha. Se gostei da obra, desgostei-me profundamente da forma como me foi transmitida: Uma película velha e riscada e uma projecção em solavanco contínuo,  quase desde o seu início. Da maneira como a imagem saltava quase parecia  que alguém estava a fazer coisas inapropriadas para o local encostado à máquina de projecção. Saí de lá com dor de cabeça mas a querer rever o filme em condições decentes (e não estou a moralizar...). 
Tudo se passou no Centro de Congressos do Estoril hoje, entre as 15h e as 17h e 15m. O filme: The Glass Menagerie (1987), baseado na peça homónima de Tennessee Williams, com interpretação de Joanne Woodward, John Malkovich, Karen Allen e James Naughton. 
Conclusão: Paul Newman era um óptimo realizador. Tennessee Williams um excelente escritor. Todos os actores divinos. Mesmo aos solavancos, valeu a pena. Stop!