sábado, 13 de fevereiro de 2010

Eu quero este livro

Detesto falar de política. A responsabilidade que implica deter o Poder é fundamental e determinante na vida do cidadão. E o cidadão é um ser humano com direitos, deveres e anseios. E, abstraindo da vergonha que muitas vezes sinto face a alguns cidadãos que, na net, se manifestam das formas mais desrespeitosas e absurdas e que não corresponderão, espero eu, ao comum e pacato cidadão do qual eu sou um eco, digo que a política, da forma como vem sendo exercida, não responde em muito ao anseio comum. Cria mesmo bastante ansiedade na cidadã pacata em que me revejo em lente desfocada. E não estou aqui a defender nenhum partido,apenas alguma ideologia e muito respeito pelos Direitos Humanos. Na hora de votar, confesso que não tenho muita convicção. Sei o que não quero. Só isso. E na hora em que se assiste ao massacre, justificado ou não, de mais um governo, só me ocorre pensar que uns se deixam apanhar e outros não. E que os motivos estão e estarão sempre lá, será apenas tudo uma questão de cair em graça ou em desgraça e ter mais ou menos Poder de agir sobre os anti-corpos. Na hora de celebrarmos a nossa República, há textos que deveríamos ler em jeito de reflexão. O livro de Rui Mateus, "Contos Proibidos" (D.Quixote, 1996), ao que parece "desaparecido" há algum tempo de cena, e de que deixo aqui alguns excertos retirados das suas primeiras páginas, parece-me servir o propósito.
Eu entrei para a política quase por acaso. Aderi nos anos 60 à minúscula Acção Socialista Portuguesa por acreditar que, pela via do socialismo democrático e através de um sistema pluripartidário, Portugal viria a ser um país igual ou melhor que aquele onde vivia exilado - a Suécia - e que era então considerado, acertadamente, a sociedade mais justa e mais evoluída do planeta. Não o socialismo utópico, igualitário, de partido único que transforma os cidadãos em funcionários do estado. O socialismo onde os partidos se combatem no campo das ideias e onde os interesses e bem-estar dos cidadãos estão sempre em primeiro lugar. Onde os partidos políticos são a espinha dorsal do sistema e os instrumentos para a sua modificação democrática e não o instrumento de promoção pessoal dos seus dirigentes. Mas, infelizmente, e daí a outra razão de ser ser deste meu livro, Portugal parece estar a perder essa importante batalha da democracia. Isso atestam o crescente branqueamento da História e falta de transparência das instituições.
A propósito do 25 de Abril, da Revolução dos Cravos e da Liberdade adquirida e de como Portugal chegou a ser um exemplo a seguir aos olhos do Mundo:
(...)Mas os partidos políticos e seus principais dirigentes rapidamente desperdiçariam este enorme património, em lutas intestinas e com vaidades provincianas. Hoje, visto de fora para dentro, Portugal regressou ao seu estatuto de país insignificante e receptor. Não foram conseguidos os grandes objectivos da Revolução de Abril e o País encontra-se entre a Europa e a mediocridade. Parece que o povo português não consegue libertar-se do fatalismo da I República.
(...)Um pouco à semelhança dos «pilares morais»do regime, a Maçonaria e a Opus Dei, tudo se decide às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos seus governantes e dos seus magistrados fosse algo suspeito, algo subversivo.
Liberdade, Justiça e Transparência são sinónimos de Democracia. E sem esses ingredientes essenciais o regime português não passará de uma democracia com pés de barro.
(Excertos do livro Contos Proibidos de Rui Mateus)