segunda-feira, 3 de março de 2008

Françoise Sagan ou um mistério em Paris

Alguns dias depois da morte de Françoise Sagan, encontrava-me a passar uns dias em Paris e, tanta publicação à volta do assunto - capa de jornais, revistas e suplementos - acordou em mim uma vontade imensa de reler "Bonjour tristesse", seu primeiro e talvez mais conhecido romance. Escreveu-o quando tinha 18 anos e eu li-o quando tinha 14 ou 15 anos, sendo que fazia parte da biblioteca de casa de meu avô. Nunca mais o vi desde então. Era na sua língua original, em francês, e lembro-me que, para além de ter gostado muito, fiquei satisfeita por conseguir lê-lo sem grandes dificuldades. Agora percebo que tal se deve à sua escrita simples e acessível. A escrita de uma adolescente.
Com a ideia fixa de adquirir a dita obra, iniciei a minha procura e logo encontrei uma pilha de livros à venda numa grande e famosa loja de artigos culturais. Foi mesmo a primeira coisa que saltou à vista, quando lá entrei: uma edição acabadinha de sair, que compilava grande parte da sua obra, incluindo o "Bonjour tristesse", inúmeros exemplares empilhados em cima de uma bancada. Como a edição era um pouco cara e eu só queria mesmo aquela obra particular, não decidi logo a compra e optei por deixar para o fim a decisão, partindo dali para a minha deambulação costumeira pela zona da música, onde me detenho sempre bastante tempo.
Quando regresso ao local, já decidida a levar aquela edição, qual não é o meu espanto ao verificar que já não estava lá nenhum exemplar. Tinham desaparecido todos. Ou sido retirados, por alguma razão que não me foi explicada. Fiquei perplexa e um pouco desapontada, mas pensei que não iria, certamente, ter dificuldades em encontrar um exemplar do livro de estreia desta escritora numa qualquer outra livraria. Assim, comecei a perguntar por ele em tudo o que era livraria, e em todas me diziam que estava esgotado. Fui ficando cada vez mais obcecada com o assunto. Perguntei e perguntei, até que, aleluia, num alfarrabista, daqueles que têm bancadas de livros velhos no passeio em frente ao estabelecimento, um rapaz por acaso muito simpático, me responde sim, que tinha um exemplar lá fora, no passeio. Et voilá! Um livro de capa dura com impressão de um desenho de Paul Klee (Mise en Garde) e na lombada, tout simplement, Françoise Sagan Bonjour Tristesse. É o que se pode ver no cimo deste apontamento. O preço? Cinco euros. Acho que fiquei com um sorriso do tamanho do mundo. E não é que ainda hoje me interrogo sobre o que terá acontecido a todos aqueles livros que eu vi quando entrei no princípio desta história?

2 comentários:

Paulo disse...

Que estranho. Como é que desaparecem tantos livros que não sejam do Harry Potter em tão pouco tempo?! Achas que foram mesmo comprados?

Bem-me-quer disse...

Não. Fiquei com a impressão de que tinham sido mandados retirar. Foi mesmo muito estranho.