Estou a ler o último de Paul Auster, "Scriptorium". Um bocadinho todos os dias, para melhor o saborear. Uma história que, para já, me faz lembrar um pouco os últimos anos da vida de meu pai, doente precoce de Alzheimer, de que começou a sofrer algures a partir dos 60 anos de idade. Isto porque, embora aparentemente o personagem esteja a ser castigado por quem lhe consagrou um ódio profundo ao ponto de o querer ver num estado de completo esquecimento e dependência, que vai fomentando através de químicos adequados ao fim pretendido, os seus sintomas são muito semelhantes aos que o meu pai apresentava.
Porquê falar do meu pai em contexto tão diverso da sua realidade? Ele que nunca foi à tropa, que tinha horror à violência, para quem a lealdade e o dar a mão aos que dele precisassem era modo de estar na vida. Porquê? Apenas porque o trauma que os seus últimos anos de vida deixaram nos seus entes mais queridos, entre os quais eu, foi tanto que certas descrições comportamentais me (nos) fazem, inevitavelmente, lembrá-lo. Alzheimer aos 80 é diferente de Alzheimer aos 65.
(Reli este apontamento e estou a imaginar as possíveis críticas que, caso isto fosse lido por mais alguém, poderiam cair sobre os ditos escritos. O que é que o romance de Paul Auster em causa tem que suscite divagações sobre esta doença? Parece uma daquelas coisas que se mandam para as Selecções. A rapariga escreve mal mas mal. Porque é que a doença aos 80 é menos má do que aos 65? ) A resposta, a minha resposta, é: Porque tudo o que sugere os meus Entes Mais se sobrepõe imediatamente aos personagens fictícios. É natural, suponho eu.
Podia escrever sobre o livro, mas como ainda estou no princípio, seria ficção sobre ficção. Peço, desde já, desculpa por qualquer coisinha a todos os Avatares que me lêem.
Sem comentários:
Enviar um comentário