quinta-feira, 18 de outubro de 2007

(O)CASO

Não era fácil convencer-se de que a juventude já tinha ficado para trás e que os tempos se alteravam à velocidade do tempo. Observava tudo com muita sofreguidão, como se fosse perder a capacidade de memorizar e não pudesse rever na mente o que os seus olhos tinham captado. Olhava-se ao espelho e surpreendia-se com a quantidade súbita de rugas que lhe apareciam no rosto. Depois, já não se expressava com a ligeireza de outros tempos. Parecia que as palavras não se faziam entender, e que os outros tinham dificuldade em perceber o que pretendia comunicar. A pouco e pouco, foi-se isolando dos outros, evitando confrontos de que podia sair com problemas de afirmação e outras mágoas irreversíveis no seu ego. Fugia de médicos, porque desconfiava. Refugiava-se no seu espaço, só com as suas coisas favoritas, que só partilhava com Seres muito especiais. Mas não se sentia só. Apenas sentia cansaço.

Sem comentários: