Estou a ler o último de Paul Auster, "Scriptorium". Um bocadinho todos os dias, para melhor o saborear. Uma história que, para já, me faz lembrar um pouco os últimos anos da vida de meu pai, doente precoce de Alzheimer, de que começou a sofrer algures a partir dos 60 anos de idade. Isto porque, embora aparentemente o personagem esteja a ser castigado por quem lhe consagrou um ódio profundo ao ponto de o querer ver num estado de completo esquecimento e dependência, que vai fomentando através de químicos adequados ao fim pretendido, os seus sintomas são muito semelhantes aos que o meu pai apresentava.
Porquê falar do meu pai em contexto tão diverso da sua realidade? Ele que nunca foi à tropa, que tinha horror à violência, para quem a lealdade e o dar a mão aos que dele precisassem era modo de estar na vida. Porquê? Apenas porque o trauma que os seus últimos anos de vida deixaram nos seus entes mais queridos, entre os quais eu, foi tanto que certas descrições comportamentais me (nos) fazem, inevitavelmente, lembrá-lo. Alzheimer aos 80 é diferente de Alzheimer aos 65.
(Reli este apontamento e estou a imaginar as possíveis críticas que, caso isto fosse lido por mais alguém, poderiam cair sobre os ditos escritos. O que é que o romance de Paul Auster em causa tem que suscite divagações sobre esta doença? Parece uma daquelas coisas que se mandam para as Selecções. A rapariga escreve mal mas mal. Porque é que a doença aos 80 é menos má do que aos 65? ) A resposta, a minha resposta, é: Porque tudo o que sugere os meus Entes Mais se sobrepõe imediatamente aos personagens fictícios. É natural, suponho eu.
Podia escrever sobre o livro, mas como ainda estou no princípio, seria ficção sobre ficção. Peço, desde já, desculpa por qualquer coisinha a todos os Avatares que me lêem.
"O Pecado não está em desobedecer à autoridade irracional e sim em violar a felicidade humana." (São Tomás de Aquino)
terça-feira, 23 de outubro de 2007
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
(O)CASO
Não era fácil convencer-se de que a juventude já tinha ficado para trás e que os tempos se alteravam à velocidade do tempo.
Observava tudo com muita sofreguidão, como se fosse perder a capacidade de memorizar e não pudesse rever na mente o que os seus olhos tinham captado. Olhava-se ao espelho e surpreendia-se com a quantidade súbita de rugas que lhe apareciam no rosto.
Depois, já não se expressava com a ligeireza de outros tempos. Parecia que as palavras não se faziam entender, e que os outros tinham dificuldade em perceber o que pretendia comunicar.
A pouco e pouco, foi-se isolando dos outros, evitando confrontos de que podia sair com problemas de afirmação e outras mágoas irreversíveis no seu ego.
Fugia de médicos, porque desconfiava.
Refugiava-se no seu espaço, só com as suas coisas favoritas, que só partilhava com Seres muito especiais.
Mas não se sentia só.
Apenas sentia cansaço.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Rotinas em tempos de bonança
Quando se levantou, hoje de manhã, não sabia o que a esperava. Uma mosca varejeira a passear na sala, onde tomava o pequeno almoço, tanto a incomodou que acabou por chamar um dos gatos para resolver o assunto. E, pronto, não se fala mais nisso.
Quando foi ao mecânico pôr o carro a arranjar, esqueceu-se de que ainda precisava do carro para transportar as compras do supermercado para casa. Resultado, o mecânico ficou para outro dia.
Quando se apercebeu que já eram horas de lanche, porque se distraiu a ver "India Song", de Marguerite Duras, comentou que o tempo passa demasiado depressa para seu (des)gosto.
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