A lógica implacável que atravessa estes factos e me faz chorar a dobrar.
A morte do cinema Quarteto fora mais um ataque feroz à memória da nossa cultura. Ainda se fosse transformado em museu do cinema, cristalização do que foi um lugar marcante de uma época de mudança e revolução na nossa sociedade, e prestada homenagem ao seu fundador. Mas não. Mataram também o seu fundador.
Pedro Bandeira Freire morreu hoje, na sequência de um
AVC - coisa que dá muito naqueles que sofrem grandes choques emocionais. Tinha entregue as chaves do Quarteto há cerca de um mês. Será que não havia hipótese de um subsídio extraordinário do Ministério da Cultura, ou da Câmara Municipal de Lisboa? Como é que não se encontra uma solução para uma coisa destas? Não se podia modernizá-lo, prolongando a sua vida com cinema alternativo, a exemplo das salas geridas por Paulo Branco?
Mas não. O assunto morreu, porque, a haver uma solução, o seu fundador deveria estar vivo para vê-la e com ela rejubilar. Agora é tarde demais!
Fica aqui um excerto de um artigo publicado recentemente no blog
A Bomba, e que
sintetiza o que se possa dizer sobre o assunto:
«O mais importante do Quarteto foi, todavia, a revelação de uma nova forma de programar, assente no amor pelas obras exibidas. A 21 de Novembro de 1975, abriu finalmente as suas portas. «Foi um espanto!», diz quem lá esteve. No mesmo prédio, quatro salas, quatro filmes em simultâneo: o primeiro multiplex de Portugal! Para os cinéfilos, foi o deslumbramento. Os filmes de estreia eram um luxo: S. Miguel tinha um Galo, dos Irmãos Tassani; Um Filme Doce, de Makavejev; Amor em Tons Eróticos, de Mai Zetterling; e E deram-lhe uma Espingarda… de Dalton Trumbo. Assim nasceu o Quarteto, com bilhetes a 30$00.» Aliás, é de ler o artigo completo.