Leio pensamentos de Jorge Luis Borges, enquanto ouço "Agrippina" de Handel e entrecorto com um conto de Sam Shepard. Tudo muito bonito, mas a dispersão mata a perspectiva e a profundidade do momento. Vou-me em diversas ordens de ideias, numa sede de tudo ter. E nada sobra. Apenas o momento que já passou. E a memória frágil de três ambientes mentais quase antagónicos.
A chegada da Primavera encapotada em Verão mente-nos com um Sol de Inverno, e deve ser essa a explicação para tanta confusão que sinto na pele que, cada vez menos, suporta ambiguidades. A vida no campo tem destas coisas. Comichões e deslumbramentos. Odores e espanto. E a proximidade do mar é outro tanto de muita coisa de que aproveito o essencial, o transporte líquido em liberdade azul cintilante para mundos conhecidos e desconhecidos onde sempre queremos ir para depois voltar e recordar e voltar a ir e acrescentar mais à nossa ínfima existência.
Fim do fim-de-semana mas não das divagações. Li há pouco, no "Público", que as nossas expressões faciais vão passar a poder comandar aparelhos género aipodes, tipo um piscar de olho muda para a faixa seguinte, um abrir de boca para a anterior e por aí fora. Isto não pode ser verdade. A sê-lo, temos mesmo a robotização do gesto humano a chegar ao seu pleno. Tudo se conjuga para nos condicionar a espontaneidade.
Tirei a foto ao riacho antes que seque. O riacho faz parte do mundo rural da zona onde habito. A foto foi tirada ontem, quando regressava da exposição "Lá fora", que fui ver antes que se fosse embora. (Ups, acabo de cometer um erro que, segundo J.L.Borges, é altamente reprovável - palavras com o mesmo som numa mesma frase.) Gostaria também de falar sobre essa exposição, de que hoje foi o último dia. Talvez amanhã, que hoje já estou a dispersar-me para outras coisas.
2 comentários:
A "Agripina" não tarda aí.
Pois não. Vou tentar ir.
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