Hoje apeteceu-me ouvir músicas de filmes, enquanto tratava dos assuntos domésticos, porque a senhora especialista na matéria não compareceu, por suposta gripe. Agora que tenho um aspirador silencioso, até que nem custa tanto. E os paninhos pré-embebidos também limpam o pózinho (pázinha ou pázinho) muito bem, sem grandes atchins. E assim, ao som do "The Last Emperor" (música de Ryuichi Sakamoto, David Byrne e Cong Su), despachei o assunto com inspiração oriental. Depois, apeteceu-me Ry Cooder em "The End of Violence", e é o que continuo a ouvir enquanto escrevo isto. Deste, diria que se trata de um conjunto de esboços musicais, uma colagem de sons provindos do passado e do futuro para se deterem perante o nosso ouvido, à laia de ponto de situação. Do outro, que foi ao encontro da necessidade de alimentar uma atmosfera mental criada pela vizualização de "Tokyo Ga", um filme de Wim Wenders que vi ontem na tv. Falo de um filme realizado por um ocidental sobre um realizador asiático, do princípio do séc. XX, Ozu, e sobre a cidade de Tóquio e a sua crescente ocidentalização. O "Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, embora sendo sobre a História da China, tem, na sua banda sonora, a mãozinha de Sakamoto, o que lhe dá um toque nipónico, principalmente no tema principal. Há muito que não ouvia quer um, quer outro e soube-me tão bem que tive logo de vir aqui desbocar este bem estar. E depois, aquela coincidência de ter Wim Wenders em ligação directa com tudo isto. O alemão que consegue expôr em écran os mais íntimos recantos do espírito de um povo, seja ele o seu próprio, o americano, o japonês ou o português. Fascina-me o seu sentido de universalidade em simultânea coordenação com as diversas matizes culturais e sociais. Ele consegue criar uma empatia, que extende a nós, espectadores dos seus filmes, com cada um dos locais onde escolhe filmar, e com aquilo que é único e específico em e de cada um. Colhe o essencial, o espírito do lugar habitado, através dos indivíduos, reais ou representados, que melhor o incorporam. Sublinho também a perfeição plástica da sua obra, banda sonora incluída, e voltando ao princípio deste post, re-desenho o mapa deste meu percurso mental para verificar se não me perdi algures...E acho que não: Estou entre dois universos sonoros, cujo ponto em comum é Wenders. Curioso, não é?
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